Quando criança e
viemos residir em Crato, nas férias de julho retornávamos para passar o mês no
sítio em Lavras. Com próxima antecedência, minha mãe encaminhava Lourdes, a fim
limpar nossa casa, que ficara fechada no período das ausências. Ela acionava os
viventes da propriedade para roçar o mato em volta, consertar paredes e telhas,
queimar chifres de boi nas imediações visando espantar as cobras, e varrer e
lavar, deixar o ambiente de novo habitável.
Poucos dias adiante, iríamos
de jipe, as pessoas da família conduzindo os poucos apetrechos próprios dessas
temporadas. Nessa jornada, cruzávamos a Serra de São Pedro, trecho hoje
denominado Rodovia Padre Cícero, que avança até Fortaleza, via alternativa aos
outros dois caminhos antes existentes, Estrada do Algodão e BR-116. A estrada
de rodagem representava, naquela fase, um desafio, uma aventura de percurso. Traçado
perigoso, dotada de cortes estreitos nas encostas, dificultosos ao tráfego de
dois automóveis, no encontro com outro, e nos deixava avistar lá embaixo os fundos
precipícios ao quais olhávamos temerosos, de coração na mão, com um friozinho
na barriga.
Desses pontos críticos
o mais arriscado era a famosa Curva da Morte, volteio íngreme, sobretudo terror
dos caminhoneiros que transportavam gente e carga nas estradas de piçarra. Os
motoristas, impreterivelmente, deveriam trabalhar na companhia de outro
profissional, o ajudante, pois, nos locais de maior periculosidade, este descia
ligeiro e seguia acompanhando o transporte, calçando as rodas traseiras com uma
peça de madeira, o cepo, instrumento abençoado, que evitava o retorno do carro
nos instantes de falta de freio ou de força no motor.
Vistos cuidados meticulosos,
ainda assim acidentes fatais ocorreram no percurso, fixados na paisagem serrana
por inúmeras cruzes, a causar apreensão nos transeuntes.
Em fase posterior, coisa
de 20 anos, houve primeiras e importantes reformas, com novo desenho das piores
curvas e capeamento asfaltíco, aperfeiçoando o caminho. Nesse tempo, contudo,
já íamos menos ao Tatu, e nas idas buscávamos seguir pela Transamazônica, que
corta Várzea Alegre e Lavras da Mangabeira.
Nisso, já no atual
Governo, se acha aperfeiçoada a Rodovia Padre Cícero, de valiosa economia de quilômetros
aos que viajam ao litoral, obra relevante do governo Cid Ferreira Gomes, a
beneficiar todo o sul cearense. Quanto ao primeiro trecho, no entanto, de
Juazeiro do Norte a Caririaçu, este, em breve, necessitará, com certeza, de maiores
aprimoramentos, dada ser crescente a demanda dos veículos, o que reclama
renovação da malha asfáltica e revisão no traçado de algumas áreas.
Um comentário:
Ótimo retrospecto da já tão antiga e perigosa rodovia Pe. Cícero. Sou são-pedrense e guardo muito bem na memória que as suas obras, agora realizadas pelo então governo Cid, já eram aguardadas a muito pelos caririaçuenses e pelos caririenses em geral. Na verdade a impressão ou expectativa que se tinha naquele projeto era que ele pudesse trazer algum avanço para nossa cidade, através do aumento do fluxo de veículos. Na verdade esse objetivo foi sim alcançado, mas a troco de muitos transtornos causados pelos grandes automóveis de carga, que tentam cruzar a cidade, e a perda de muitas vidas, pois mesmo com tantas melhorias ela ainda não deixou de ser perigosa, sobre tudo para os que ousam a desafiá-la excedendo o limite de velocidade em seus declives.
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