domingo, 25 de setembro de 2011

As cidades de Chico Buarque - Emerson Monteiro


Cristina Couto reuniu em livro (As cidades de Chico Buarque) fragmentos de uma época histórica do Brasil recente e intercalou-os com páginas das músicas de Chico Buarque de Holanda e. deste modo, criou belo painel que bem representa a fase crítica dos anos de chumbo. Nas marcas que anotou dos passos do poeta nos bastidores da convulsa vida nacional, a escritora conta em linguagem eficiente o que vencíamos do medo e da censura feroz para trazer ao povo os espelhos urbanos que alimentavam apreensivas esperanças e resistência.

Perante o jeito que exercita, Cristina de Almeida Couto, membro da Academia Lavrense de Letras, professora universitária e jornalista, consolidou no seu trabalho a escritura poética de Chico Buarque na visão acadêmica suficiente de dizer o que aconteceu no imaginário da criação artística, contradições e vislumbres doridos, na fase extrema, totalitária. Caminhava-se pelas ruas deserdados; atravessavam as lamúrias de um modelo econômico de época, à força dos poderes internacionais na república ansiosa de algum crescimento material.

Talhes profundos, no entanto, feriam por dentro a alma, sobretudo de jovens da classe média embalados nos sonhos imaginários de liberdades civis ideais, frustradas na quebra institucional da luta brasileira.

Trabalhou com êxito o tema desse encontro das duas vertentes, do real no cotidiano, e das letras que o interpretavam através palcos e discos, a transmitir vozes gritadas ao enlevo dos ritmos novos – misturas de samba do morro, bossa nova e inventividade nativa.

Feliz a executar o projeto estabelecido, Cristina nos permite viver ou reviver a composição popular no mister desses acontecimentos, versão do coração de quem atendeu consignar a poética na história dos vencidos daqueles instantes.

Uma viagem técnica e sentimental, pois, através das letras das cantigas... exercício de fixação salutar e digno de quem deseja guardar as lições amargas da nossa geração urbano-industrial.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A SEGUNDA GUERRA DO AFEGANISTÃO - Emerson Monteiro


Dia seguinte a longa viagem que, por terra, realizara a Brasília, na manhã do dia 11 de setembro de 2001, uma segunda-feira, trabalhava na Universidade Regional do Cariri por volta das 10h30, quando Sávio Cordeiro, colega de sala veio me trazendo a notícia: Ocorreram atentados nos Estados Unidos, com explosões no Pentágono e nas torres do World Trade Center.

- Começou a Terceira Guerra Mundial - disse ao transmitir os incidentes verificados minutos antes. - Terroristas acabaram de jogar aviões Boeing 767 contra esses alvos estratégicos da América...

Isso me pegara de chofre qual um soco na boca do estômago. Senti espécie de vertigem, frieza no corpo, compreendendo que algo sério ocorria no mundo daquela hora, tempos estritos da dominação do forte sobre o fraco e intensa produção bélica. Em princípio, parecia confirmar a lógica da luta pelo poder na Terra, a qualquer preço.

Procurei demonstrar naturalidade, no entanto... Mas eu mesmo sei o que se passava da cabeça ao coração. Algo sinalizava a gravidade das informações. Daí a pouco, fui saído de mansinho para, próximo dali, encontrar Danielle e as meninas, na Escola Semear, e nos dirigirmos à casa de meus pais, onde almoçaríamos naquele dia.

O peso dos acontecimentos viria com mais intensidade à frente da televisão, na sala onde todos da casa se reuniam a testemunhar o decorrer dos acontecimentos. Comentava com meu pai o assunto quando, ao vivo, ruía a primeira torre. Na cena, avião que volteava nos céus 18 minutos depois do primeiro impacto, impassível, atingiu a segunda torre gêmea, quase a traspassá-la, cena mostrada qual cena de ficção. Outro avião cheio de passageiros há pouco teria sido interceptado sobre o Estado da Pensilvânia. Noticiava-se que outros aviões ainda se achavam desaparecidos. De tudo aquilo deixando um gosto ferrugento na minha boca. A emoção do imprevisível parecia tomar conta da Eternidade.

Antes de vir para casa, nessa tarde, por volta do meio dia, passaríamos para visitar um amigo, Gerardo Junior Lopes, no Grangeiro. Na sua casa, todos também observavam as imagens que se repetiam na televisão, cenas dantescas de destruição em Nova York e Washington.

Após tais instantes, lembro das muitas notícias e da expectativa mundial de como reagiria a nação americana em face do desafio anônimo dessas ações. Logo se iniciava perseguição ao suspeito número um, o líder árabe Osama bin Laden, milionário saudita que lutara contra os russos na primeira guerra do Afeganistão, isto sob os auspícios dos próprios Estados Unidos. A facção que apoiara e saíra vitoriosa, Talibã, ocupava quase o país inteiro, estabelecendo regime de terror à base do fundamentalismo islâmico.

Nos desdobramentos, meses sequentes, americanos e ingleses invadiriam o Afeganistão para destituir do poder aquela facção dominante. Subiriam montanhas, explorariam cavernas distantes, à cata do autor dos atentados, até que, passados nove anos, em Abbotabad, no vizinho Paquistão, eliminariam o responsável pelos abalos de 11 de setembro de 2001.